Aprender em público

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Enquanto me acompanhava nos trabalhos-de-casa, a minha tia-avó, que foi professora grande parte da vida, dizia-me várias vezes que a melhor forma de aprender era ensinar a outros. Pedia-me que explicasse, usando palavras minhas, o que tinha entendido da matéria, e encorajava-me a fazê-lo frequentemente e com diferentes pessoas. Talvez por isso me tenha habituado desde cedo a fazer resumos em forma de esquema, com ideias e ligações que me ocorriam a partir do que lia.

Algumas formas habituais de promover esta prática em contexto de formação passam por pedir aos participantes que façam uma apresentação, preparem uma exposição, escrevam um texto ou realizem um documentário que lhes permita transmitir a outras pessoas a sua forma de pensar sobre um tema. 

Estas atividades, ainda que úteis e importantes, estão inteiramente dependentes do formador (da sua vontade de as incluir no desenho da formação e da sua capacidade de as explorar do ponto de vista pedagógico) e tendem a ficar limitadas ao tempo e ao espaço da formação. 

Num cenário em que cada vez mais a aprendizagem tenderá a ser auto-dirigida, cada um de nós deverá ser capaz de implementar estratégias para potenciar a sua capacidade de se apoderar da informação e transformá-la em conhecimento aplicável à sua realidade. 

Aprender em público, ou seja, partilhar o próprio processo de aprendizagem com um conjunto mais ou menos alargado de pessoas, fazendo uso das ferramentas digitais disponíveis, poderá responder a esta necessidade. Vejamos como, recorrendo a três conceitos diferentes: Jardins Mentais, Diários de Prática e Museus de Aprendizagem.

Jardins Mentais

Fazendo uma analogia entre o cérebro e um jardim, a expressão “jardim mental” tornou-se particularmente popular nos últimos anos, em resposta à explosão do volume de informação a que somos expostos diariamente. O objetivo é assumir uma atitude proativa de construção de conhecimento, cultivando a curiosidade de forma intencional para produzir novas ideias.

O processo é simples: 

🌱 Sempre que nos cruzamos com um conceito ou pensamento que desperta a nossa curiosidade, tratamo-lo como uma semente: registamo-lo numa nota física ou digital usando palavras nossas. 

🌾 Periodicamente, revemos os nossos registos e exploramos combinações e conexões entre ideias e pensamentos. 

🧑 🌾 A nossa colheita assume a forma de novos pensamentos, ideias ou conteúdos que partilhamos em público. 

É assim que nascem várias letras de canções, ideias para livros e, numa escala mais modesta, a maioria dos meus textos. 

Diários de Prática

Ao contrário do anterior, este conceito não é novo, e muitos de nós já o terão aplicado na escola ou na universidade em disciplinas práticas, sob a designação de Diário de Bordo ou Caderno de Laboratório. 

Fora do mundo académico, a sua aplicação tem sido mais reduzida, mas a verdade é que manter um registo escrito ou visual ao longo de uma jornada de aprendizagem tem um grande impacto no processo, porque permite documentar o progresso que vamos fazendo e reduz a ansiedade associada a aprender algo novo. 

Existem hoje formas simples e bastante interativas de o pôr em prática:

🍳 No filme Julie & Julia, Julie Powell assume o desafio de cozinhar todas as receitas no primeiro livro de Julia Child, documentando o processo passo-a-passo no seu blog. 

🎻 Da ficção para a realidade, no início de 2021 a violinista Hilary Hahn lançou o desafio 100 dias de prática: durante 100 dias, iria publicar um vídeo seu a tocar violino, convidando outros a juntar-se à prática. 

Museus de Aprendizagem

Esta ideia vem do universo da formação e no fundo consiste em criar, na experiência de aprendizagem, oportunidades de demonstrar o que se aprendeu, de forma visível, tangível e partilhável. O imaginário do museu remete para a exposição de um produto final que resulta de um longo processo de experimentação, erro e evolução. 

Alguns exemplos de como a ideia se pode aplicar à prática: 

🎤 Preparar uma apresentação para a equipa depois de fazer um curso online ou participar numa palestra

💻 Criar resumos (escritos ou em vídeo) de livros ou podcasts

📹 Fazer um tutorial de uma técnica depois de a treinar

“It's been demonstrated repeatedly that one of the best ways to learn is to teach.”- Adam Grant

E tu, arriscas-te a aprender em público?

Fontes consultadas além das referidas no texto:

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