A importância do movimento para a criatividade

De acordo com Phil Knight, co-fundador da Nike, em 1965 a corrida não era considerada um desporto. Sair de casa para correr por prazer, para fazer exercício, para viver melhor e durante mais tempo, era algo de que simplesmente não se falava. 

Havia mesmo, segundo ele, pessoas que retiravam especial prazer em fazer pouco de quem corria. Os condutores abrandavam, buzinavam e gritavam “arranja um cavalo!”, enquanto atiravam uma lata de cerveja ou refrigerante à cabeça de quem estava a correr.

No espaço de duas gerações, o exercício físico deixou de ser algo estranho para ser uma rotina integral da vida diária, e rapidamente se transformou em mais um domínio de perseguição da excelência, com objetivos e planos de ação, métricas que é necessário acompanhar e tecnologia para facilitar todo o processo. 

Uma evolução, aliás, muito facilitada pela própria Nike, como atesta o designer responsável pela pulseira de fitness da marca entre 2008 e 2011: 

A ideia de acompanhar o próprio progresso era algo que fazia parte do domínio dos atletas de elite. Por isso, a (introdução da) Nike+ representou a primeira vez em que o self quantificado se tornou uma ideia generalizada. - Jill Nussbaum

Hoje são vários os artistas, escritores e cientistas que encontram no movimento diário uma condição essencial à criatividade. Para alguns, esta quantificação da atividade física pode até servir de ímpeto para o movimento. David Sedaris, cujas caminhadas são já famosas, utilizou durante algum tempo uma pulseira de contagem de passos como estímulo para alargar os seus passeios. 

Mas mais do que contar quilómetros, passos, calorias ou minutos, importará sobretudo criar espaço para andar sem pressão ou objetivos e simplesmente convidar o tédio a entrar:

O tempo dos trajetos é um tempo de criatividade. É preciso evitar o telemóvel e deixar o ócio doer. - Gregorio Duvivier, humorista

Durante as caminhadas ocorrem-me novas ideias para desenvolver a história que estou a escrever. Acontece-me o mesmo nos passeios de carro. E também nas longas viagens de avião. O desaparecimento das referências de tempo e espaço faz com que eu alcance a máxima concentração. - Pedro Almodóvar, cineasta

Quando termino um dia de trabalho, subo às montanhas para uma caminhada. Levo um gravador de bolso porque sei que à medida que a parte mais superficial da minha mente se esvazia com a caminhada, outra parte de mim vai começar vai começar a contribuir e a falar. - Steven Pressfield, escritor

Passo muito tempo a correr e a andar. Todos os dias vou caminhar, e adoro correr. E quando estou a correr, penso na minha escrita em termos estruturais, num sentido espacial. Por isso, se não for correr todos os dias, a minha escrita não corre tão bem. Depende mesmo desta libertação cinética de energia. - Joyce Carol Oates, escritora

A investigação tem também demonstrado a existência de uma ligação entre o acto de caminhar e o desempenho em tarefas criativas. A título de exemplo, quatro experiências realizadas em 2014 pelos investigadores Marily Oppezzo e Daniel L. Schwartz da Universidade de Stanford demonstraram que andar promove a geração de ideias, não só em tempo real, como também imediatamente a seguir à caminhada. De todos os participantes no estudo, foram os que andaram ao ar livre os que chegaram a resultados mais criativos. Como recomendação, os autores propõem que, quando a geração de ideias é importante, será benéfico incorporar caminhadas durante o dia de trabalho. 

Agora tu

Antes de uma tarefa que exija criatividade, experimenta fazer uma caminhada. Pode ser de apenas 5 minutos, se for todo o tempo que tens disponível. Evita levar contigo o telemóvel, e privilegia o ar livre se possível. 

Quando regressares regista todas as ideias, associações e pensamentos que te ocorreram e dos quais te recordas, usando um mapa mental*, por exemplo. 

*Um mapa mental é uma representação visual de um conjunto de ideias e das relações que existem entre elas. Começa por escrever o primeiro tópico que te ocorrer no centro de uma folha em branco e faz um círculo à sua volta. Regista depois as novas associações que surjam em torno do tema principal, fazendo conexões entre as ideias como se fossem ramos de uma árvore. Procede desta forma até registares todas as ideias. 

Lista de referências consultadas:

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