Biodiversidade nas grandes cidades: O papel que cabe às empresas

 

A urbanização é hoje uma das grandes ameaças à biodiversidade, destruindo habitats naturais e interferindo com as quatro necessidades básicas da vida selvagem: alimentação, água, abrigo e possibilidade de fazer ninhos.

Mas mesmo os espaços mais insuspeitos podem conter oportunidades de restaurar a biodiversidade e gerar impacto social positivo.

Quando estava preso em Robben Island, Nelson Mandela pediu autorização para cultivar um pequeno jardim. Todas as manhãs, colocava um chapéu de palha e umas luvas e trabalhava durante duas horas. Aos domingos, oferecia a sua colheita aos cozinheiros da prisão, para que pudessem preparar uma refeição especial para os outros presos, e também aos carcereiros, que assim levavam vegetais frescos para as suas famílias.

Se uma prisão pode oferecer espaço para cultivar alimentos, proporcionar realização pessoal e promover gestos de amabilidade entre a sua comunidade, o que dizer de todos os espaços corporativos e comerciais que ocupam hoje as grandes cidades, muitos deles sub-ocupados ou inutilizados em consequência da pandemia de Covid-19? 

As empresas podem e devem ser parte da solução e muitas têm já agido ativamente para proteger e promover a biodiversidade nos seus edifícios em espaço urbano. 

A Rooftop Republic, uma organização baseada em Hong Kong, transforma espaços sub-utilizados em quintas urbanas que promovem a biodiversidade e envolvem as comunidades na criação de um estilo de vida sustentável. 

Um dos seus projetos em edifícios comerciais foi desenvolvido em parceria com a JLL, uma empresa do setor imobiliário, que tem uma quinta urbana em funcionamento desde 2014. Os seus colaboradores envolvem-se ativamente na produção de alimentos orgânicos, que depois são regularmente doados a uma instituição social para criar cabazes para quem mais precisa. 

O grupo multinacional de retalho Marks & Spencer tem um processo estruturado para promover a biodiversidade nos seus projetos de construção de novas lojas, que não só determina os passos a dar em cada etapa, como especifica alguns critérios de design a ter em conta no planeamento dos edifícios.

A loja de Cheshire Oaks é um case study de sucesso na promoção da biodiversidade. Antes do início da construção, foram feitos vários estudos ecológicos de pesquisa de morcegos, ninhos de pássaros e espécies de árvores presentes no local, para garantir a sua preservação. Durante a construção, foram plantadas 228 novas árvores e 30 espécies diferentes de plantas (todas selecionadas por recomendação de especialistas) e instaladas novas casas de pássaros, morcegos e insetos. 

Já este ano, na abertura de uma nova loja em Boksburg, na África do Sul, a Leroy Merlin convidou a comunidade a plantar 70 árvores no parque de estacionamento. Além do potencial impacto positivo no ambiente, esta iniciativa contribuiu para homenagear a herança cultural do espaço onde a loja foi construída e reforçar a ligação emocional aos residentes, que tinham expressado preocupação com o desaparecimento do jardim que ali existia.

E na sua empresa, que espaços poderiam ser repensados para criar pequenos oásis de biodiversidade? 

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Artigo escrito por Ana Vargas Santos e Luís Rosário a partir de um trabalho realizado para a Leroy Merlin no âmbito da sua estratégia de impacto positivo.

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Fontes:

The long walk to freedom, Nelson Mandela

https://rooftoprepublic.com/pages/our-projects 

https://corporate.marksandspencer.com/documents/plan-a-our-approach/mands-property-biodiversity-guide-january2015.pdf 

https://boksburgadvertiser.co.za/357671/planting-trees-at-leroy-merlin-a-success-despite-rain/ 

https://www.swecourbaninsight.com/climate-action/building-in-biodiversity-for-climate-for-health/

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